domingo, 16 de fevereiro de 2014

Há emoção na Música?

Algumas semanas atrás foi concluída a novela da Globo Amor à Vida. A última cena foi inspirada na última cena do filme "Morte em Veneza", de Luchino Visconti, de 1971, com o cenário e trilha sonora semelhantes. Mas o que interessa aqui é a trilha sonora (ou também). No mesmo dia em que foi veiculado o último capítulo, as redes socias estavam repletas de comentários, compartilhamentos sobre esta cena ( também a do beijo entre homens). Usuários relatando que ficaram extremamente emocionados, choraram muito com esta cena. A trilha sonora foi a 5ª Sinfonia, 4º movimento da peça, andamento Adagietto, de Gustav Mahler.


Essa música, por si só, imprime o colorido emocional? Ela induz a um estado emocional? Sobre a música e emoções, há duas perspectivas:

  1. A emoção ligada à música é atravessada pela linguagem, ou seja, carregada de aspectos culturais e históricos. A música evoca alguma emoção, mas não é fixa a emoção, por exemplo, uma música num andamento lento evoca tristeza e outra num andamento mais rápido evoca alegria, dependendo da tonalidade, seja maior ou menor. Essa perspectiva não acredita nesta possibilidade porque num mesmo sujeito uma mesma música pode evocar uma emoção agora, mas num outro momento não evoca a mesma emoção (como dizem no senso popular, música romântica só faz sentido quando se está na pior!).
  2. A segunda corrente acredita que a música seja capaz, sim, de evocar emoções simples, do dia-a-dia, como alegria, tristeza, medo, raiva, sendo independente da construção que o sujeito tem da música. A musicoterapia parte deste pressuposto. 
Há uma semelhança dessas perspectivas com as escolas linguísticas estruturalista e pós-estruturalista. No estruturalismo, acredita-se numa estrutura fixa da língua, não varia de sujeito para sujeito. No pós-estruturalismo as não existe uma estrutura fixa, mas esta varia de acordos com seus usos (pragmática). Uma perspectiva anula a outra? É um dualismo? Não é essa proposta. O que acontece é que o olhar do observador é que define como será visto o objeto, logo não há verdades definitivas sobre este objeto, mas sim  verdades transicionais e condicionais. Dizer que Saussure está certo e Wittgenstein errado, ou vice-versa, não chega a lugar nenhum. É apenas um lugar diferente que se olha o objeto, não obrigatoriamente um dualismo. O mesmo vale para o tema abordado, as emoções atravessadas pela música. Música é linguagem, logo é perpassada pela semântica, cada um pode dar um significado para ela de acordo com suas experiências.... Por falar em experiência, a música seguinte eu ouvia bastante quando fazia cooper no calçadão de Candeias. Ela me deixava muito disposto e rindo à toa. Fazia minhas caminhadas ouvindo Lenine e árias de ópera. Nossa! Uma maravilha! (Enquanto escrevo, deixo tocando um fundo musical com Chopin, Debussy e Mahler. Estes foram meus companheiros durantes várias postagens!) Para outras pessoas, estas músicas provocariam sono!

 




ROCHA, Viviane Cristina da; BOGGIO, Paulo Sérgio. A música por uma óptica neurocientífica. Per musi,  Belo Horizonte ,  n. 27, June  2013 .

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