domingo, 16 de fevereiro de 2014

Maurice Ravel e a Neurociência

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Este é o famoso "Bolero", de Maurice Ravel, peça composta em 1928 para execução orquestral. O Bolero é tocado diariamente na Praia do Jacaré em João Pessoa-PB durante o pôr-do-sol, pelo músico Jurandy do Sax.


      Qual a relação entre Ravel e a Neurociência? Vamos chegar lá, mas antes vamos ver o que é Imagens Mentais Musicais.
      Francis Galton (1822-1911) já falava em Imagens Mentais em 1880, mas apenas relacionadas à visão. Sabemos, na prática, que existem Imagens Mentais Musicais (IMM). É só perguntar a algumas pessoas como elas representam uma música na mente. Uns não conseguem lembrar de uma música com todos os seus aspectos, mas é muito comum um música ou até amadores afirmar poder executar uma música na mente tão fiel como se ela estivesse sendo reproduzida por um aparelho de som. Os compositores fazem exatamente o processo de transcrição daquilo que a mente produz ou ao ver uma partitura desconhecida consegue executá-la na mente pois conhece vários instrumento e como eles soam em várias regiões (grave, média e aguda). Mozart (1756-1791) transcreveu com precisão, ainda muito jovem, uma música que tinha ouvido apenas uma vez. Beethoven, já totalmente surdo, ainda escreveu uma obra que é considerada uma das grandes obras da Música Erudita Ocidental, a 9ª Sinfonia.

Eles conseguiu esse feito por ter exatamente essas imagens mentais. Mas há também situações patológicas em que essas músicas não saem da cabeça (earworms ou braiworns). As músicas ficam grudadas e não saem nem mesmo com muito esforço! Toca-se por horas ou dias uma música constante na cabeça. Sacks (2007) relata casos clínicos nesta situação. 
      Maurice Ravel (1875-1927) foi um pianista e compositor francês. Começou seus estudos cedo, aos 7 anos,  dedicando-se bastante ao piano. Como já foi dito, ele compôs o Bolero, mas sua obra consta de peças para outros instrumentos, inclusive, claro, o piano. Ele compôs um concerto para piano só para mão esquerda encomendado por Paul Wittgenstein, irmão de Ludwig Wittgenstein, pelo fato de Paul ter tido seu braço direito amputado. 
Maurice Ravel
Os últimos anos de Ravel foram afetados pela Doença de Pick, mal que se reflete em distúrbios de linguagem, personalidade e comportamento e é um tipo de demência fronto-temporal (para saber mais acerca das demência fronto-temporal consultar o artigo Demência Fronto-temporal). Cirurgia de cérebro em 1937 não foi bem sucedida e Ravel morre alguns meses depois. Ele começou a apresentar afasia semântica (incapacidade para lidar com representações e símbolos, conceitos abstratos ou  categorias), mas sua mente continuava com padrões musicais e melodias, ele só não sabia como traduzir no papel. A relação desta história com a Neurociência é a relação da Música com os lobos temporais.





SACKS, Oliver (2007). Alucinações Musicais, relatos sobre a música e o cérebro. São Paulo; Companhia das Letras. 360p. 

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